Religiosos e médicos destacam que ação traz consequências irreversíveis
Uma pesquisa recente do IPEC aponta que 7 a cada 10 brasileiros são contrários ao aborto. Para discutir sobre a ação ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 442, proposta pelo PSOL com apoio da Anis Instituto de Bioética, que pede a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, a Fehbesul (Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de MS) realizou, ontem (2), uma reunião com os hospitais filantrópicos de Mato Grosso do Sul, para discutir a implantação do Ambulatório de Interrupção da Gestação nas 12 semanas nas unidades.
Durante o encontro, que aconteceu de forma virtual, Naor Antônio, diácono permanente da Igreja Católica – fundador da Comunidade Católica Boa Nova ressaltou pontos importantes. “Começo dizendo que o embrião dentro da mãe é uma vida, a genitora não tem o direito de interromper uma vida, o bebê gerado é um ser humano que tem suas vontades e seus direitos. Temos que preservar a vida desde conspecção. Aborto é questão ideológica, não é questão de saúde.
O diácono continuou dizendo que abortar é um erro, que como religioso acompanha mulheres que praticaram o aborto de forma ilegal. “O ato de tirar uma criança, traz consequências irreversíveis, psicológica, à saúde e até religiosa”, afirma.
A Federação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos afirmou ainda, durante a reunião, que a saúde pública feminina no SUS (Sistema Único de Saúde) vive um verdadeiro caos, com uma lista de mulheres na fila para cirurgias como retirada do útero e miomas, além da sequências de casos de mulheres com endometriose. “Tantas coisas que precisam ser feitas, falta de médico e remédios, e o Congresso preocupado com legalização do aborto”, declarou a federação.
Ao final da reunião ficou decidido, por unanimidade, com 19 votos favoráveis, pela não implantação dos procedimento cirúrgico ou ambulatorial referente ao aborto.
Por fim, o presidente da Fehbesul, Ivandro Fonseca, relatou que foi um dia histórico para as Santas Casas e Hospitais Filantrópicos de MS. “Hoje, nós obtivemos uma grande vitória. A vitória da vida! Não permitiremos que, em nossos estabelecimentos de saúde, sejam implantados projetos que atentem contra a vida humana. As Santas Casas e Hospitais Filantrópicos, estão unidos em MS, pela defesa da vida”, pontuou.
RISCO À SAÚDE
Klissia Pires Souza, ginecologista e obstetra da Unimed Campo Grande, explica que o aborto provocado refere-se à interrupção da gravidez causada por intervenção externa e intencional. Estima-se que são realizados em torno de 1 milhão de abortamentos provocados no Brasil por ano, a grande maioria de forma insegura, gerando uma série de complicações.
“O aborto inseguro é um procedimento de risco para interromper uma gravidez indesejada, realizado por pessoas que não têm as habilidades necessárias ou em ambiente que não tem os padrões médicos mínimos, ou ambos.
As mulheres que se submetem ao aborto inseguro acabam buscando medicamentos proibidos e de procedência duvidosa ou se submetem às práticas rudimentares, como a introdução de objetos na vagina e chás e preparados orgânicos aplicados no fundo do útero. Essa prática pode trazer complicações como perfuração uterina, aderências e infecções. Esses problemas podem gerar sequelas e comprometer a fertilidade futura”, declarou a médica.
PESQUISA
De acordo com a Pesquisa Nacional de Aborto 2021, estima-se que 5 milhões de mulheres tenham feito aborto em todo o país. A proporção é de que uma em cada sete já fez o procedimento até os 40 anos de idade, sendo que 81% delas têm religião, o que sugere que, mesmo com suas crenças, consideram ser mais urgente resolver a gravidez por não desejarem dar à luz a uma criança que não querem, naquele momento. O estudo indica que muitas das mulheres têm religião de linha conservadora e, mesmo assim, fazem o aborto, ainda que não compartilhem a decisão com outras pessoas. Para movimentos a favor da legalização, a atitude revela hipocrisia.
Contrários
Os hospitais que se posicionaram contra, foram: Hospital Nossa Senhora Auxiliadora de Três Lagoas, Santa Casa de Paranaíba, Santa Casa de Cassilândia, Hospital Evangélico de Dourados, Hospital Psiquiátrico de Paranaíba, Hospital de Câncer de Campo Grande, Hospital Adventista de Campo Grande, Hospital Filantrópico de Camapuã, Fundação Hospitalar de Eldorado, Hospital Abran de Anastácio, Hospital São Francisco de Itaquirai, Santa Casa de Bataguassu, Hospital Marechal Rondon de Jardim, Hospital São Julião de Campo Grande, Asilo São João Bosco e Hospital Guia Lopes da Laguna.
Questionada sobre a participação na reunião, a Santa Casa de Campo Grande destacou, ao jornal O Estado, que não foi comunicada dessa reunião.
A descriminalização do aborto até a 12ª semana de gravidez, que começou a ser julgada virtualmente pelo STF (Supremo Tribunal Federal), na madrugada do dia 22 de setembro, é tema polêmico tanto entre grupos mais conservadores, que se opõem à legalização, como os evangélicos, quanto entre movimentos de esquerda e mais progressistas.
Por – Thays Schneider
FONTE SITE – (https://oestadoonline.com.br)
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